terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sem paradigmas

Tive um sonho, vou te contar.
Eu me deparava com uma multidão que queria sorrir, mas não podia. Era preciso, portanto, fechar os olhos para que a irradiação não chegasse a me maxucar.
Mas a areia, que arranhava as entranhas de um, alcançava o paladar do outro e assim, o movimento infestava todo o ambiente. Até que, aquele sentimento que inibe qualquer outro deixou de me pertencer e tentei replicar o conceito que mais enobrece o indivíduo entre os demais. Cansativo, mas até que operante.
O orgulho deu lugar à ação e tudo o que eu mais queria era alcançar a lua com o seu sorriso mais tenro. A ternura era mais importante que todo aquele batalhão de hipocrisia que à mim permeava. O sentimento de exatidão que o olhar conceituava ao pestanejar cada milímetro de mistério confortava como uma manta em um dia de inverno. As folhas caíram. O céu ficou limpo. As pessoas, despidas de arrogância e o ministério das causas improváveis deu lugar àquela cena inicial..

Desconcertante.
Displiscente.

Tomei nota e abri os olhos. Foi fácil, mas complicado de se pautar em linhas paralelas e sobrepostas. Dedilhá-lo é mais sonoro..

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

debilidade urbana (com a vez, o tempo!)

Era meio dia e o sol rachava o chão. O estilhaço de cada passo dado pelos transeuntes misturava com a poeira estonteante da vida que não para. Como um mix convexo, dona Sebastiana saía de sua casa em busca de novos ares. O negócio é que ela não conseguia enxergar o problema anunciado pelos jornais, mas o semáfaro da faixa de pedestres estava mais claro que nunca!

Passado o tapete listrado sobre o asfalto úmido e baforento, a vovó, encantada com a potencialidade da estação do ano, não se entregou às notícias factuais que estamparam os jornais daquela terça-feira e vestiu seu melhor maiô. Seu filho, muito pragmático, despercebia o sentido daquela ação em pleno dia de semana e tentou coibir o entusiasmo da velhinha; mas, como havia de ser, foi em vão.

Conservada, Sebastiana colocou seus óculos Channel - da época em que vestia 36 sem esforço e carregava seus dois filhos em cada braço todos os dias de sua casa até o mercado - e saiu vestida com seu melhor sorriso em busca de um lugar onde ela pudesse ser; sem precisar provar nada a ninguém.

Ela caminhou. E muito. Aliás, a senhora de 82 anos percorreu um caminho suficiente para esbarrar em um cenário que a inspirava. Brisa, sombra, pássaros, cantoria, verde, nobreza e sensatez. Por mais que possa parecer ininteligível, dona Sebastiana percebeu (de alguma forma) que tal fato só pode acontecer agora, em plena era tecnológica e informatizada. "Como assim não sabes o que é um wireless?" Todos do seu condomínio comentavam sobre as ferramentas que a internet trouxe para auxiliar na vida cotidiana, mas Sebastiana insistia em se prender ao tempo em que colecionava agulhas e preparava o enxoval da família à mão - da mesma forma em que o tempo havia se restringido em agir sobre a debilidade de seu corpo e à maneira em que se esculpiu as rugas de sua face.

Eis que finalmente a simpática mulher madura (!) se deparou com os encantos e mordomias eletrônicas e comprou um ventiladorzinho portátil na loja menos firulenta do quarteirão no qual trafegava. O prendera na aba do chapéu, amarrou a cartucheira na cintura (que hoje já se rendia à numeração 46), se lambuzou com um creme protetor (aquele da bula lida pelo Pedro Bial), deu dois nós em cada cadarço e caminhou bastante até que se deparou com o lugar novo. Como ela ainda engatinhava nos processos tecnológicos, Sebastiana demorou para encontrá-lo; motivo, falta de traquejo com máquinas. Quando ela parava as pessoas nas ruas para saber em qual rota direcionar seu rumo, todos estavam com cabeça abaixada, o tronco reclinado, olhos esbugalhados e fixados em um monitor minúsculo que emanava luz e suas mãos abrigavam.

Sebastiana não entendia.
Mas ao chegar naquele ambiente onde as plantas tinham seus espaços infinitos para se desenvolver, as copas das árvores a desabrochar frutos maravilhosos sem pudor e o que ou a quem temer, Sebastiana se deparou com uma pessoa de costas, que chegou a quase censurar o novo. Ele estava com uma postura semelhante a das pessoas que ela se esbarrou durante o percurso até onde não cabia mais luz do pôr do sol. No entanto, este rapaz vestia uma bermuda confortável, blusa e chapéu sorrateiramente virado para o lado. Foi no instante em que Sebastiana confundiu-se e esqueceu do calor. Ela encheu um balãozinho de pensamento e formulou em sua mente: "Bem... a diferença é que o jovem aprecia a inteligência da natureza, enquanto que aquela gente da rua se rende (ao tempo em que se amarram) aos "benefícios" da dita comodidade urbana". Ao fechar suas aspas e espanar as espuminhas do balão de pensamento de quadrinhos, Sebastiana constatou falcimente que: ferramentas como chave de fenda, alicate e martelo estavam ensacadas ao lado do jovem rapaz, que por sua vez, se acomodava à sombra e a tensão em que os passos das formigu(inh)as atrozes percorriam. (Sebastiana identificou-se!) Logo, dessa forma, ela percebeu que as ferramentas utilizadas pelas mãos unificadas da massa da rua, lhe fazia de refém, restringindo, portanto, àquela gente a um universo patologicamente digital. Tudo parecia em vão. Já para Francisco, o mundo parecia uma obra de arte palpável como a pele enrugada e os fios sábios e brancos de dona Sebastiana, esportista implacável na família.

sábado, 25 de setembro de 2010

Blog, o que é isso?

Já vi cachorro com esse nome, ouvi um bêbado na rua produzir som semelhante, o ruído do ônibus também é meio sonoro, mas o que tenho visto no cenário local de produção de blogs tem me feito arregalar os olhos. E, coincidentemente (ou não), o mesmo tema veio à cabeça para iniciar esse artigo como forma de sintetizar um pouco as aulas que tive durante um final de semana na aula de Comunicação Digital e Ambientes de Aprendizagem da minha Pós-Graduação.

Junto com os então ensinamentos adquiridos com o módulo, o meu aprendizado corriqueiro me fez despertar sobre a hipótese de identificar o meu blog como um espasmo único, que concilia com o que eu vivo e o que acredito. Por isso, é preciso coerência com o que se registra no livro digital – afinal de contas, o apanhado de ideias inclui o viés da persona de quem o editora. O assunto que procuro tratar no meu blog trata-se interage diretamente com as minhas intenções e interesses cotidianos.

Respiro jornalismo, afeto e gente, logo, o que publico tem relação íntima para sustentar essa tríade com o intuito de torná-la perfeitamente coerente diante do âmbito que o endereço eletrônico venha a tomar proporções maiores (ou não). A infinidade do espaço às vezes me inibe, até me constrange por saber que a dimensão que uma interjeição venha a tomar seja além de intangível, incoerente.

Busco atribuir os mecanismos nesse dispositivo existentes à validação convencional quando se trata de quebra de paradigmas. O ambiente é, exclusiva e necessariamente, de aprendizagem de mundo, de esfera, palpável e ao mesmo tempo, porosa. Os pixels as vezes me coíbem de interagir com mais ênfase diante do papel que ao blog seria conveniente. Por isso penso que seja importante estabelecer onde o jornalismo surge até quais proporções da esfera de entendimento ele pode alcançar – sem deixar de perder sua essência, estabelecida (sem muito critério, porém já delineada) pelo editor.

Não podemos confundir blog com espaço de informações de cunho jornalístico sem sê-lo. Quero dizer que é importante que a pessoa responsável pelo espaço tenha conhecimento da causa para adquirir e incluir tal cunho social. Uma vez o tendo, a sugestão é não perder o foco diante do momento em que os fatos são noticiados e imbutidos no endereço que leva o seu nome. É uma responsabilidade que fatalmente está associada àquele profissional responsável. Seria incoerente, inclusive, se ao lêssemos um artigo não direcionássemos o contexto que ele carrega ao publicador. O povo antigo tem o costume de dizer que isso é “dar nome aos bois” e o importante dessa postura é apenas dar o crédito e reconhecimento do que é tornado público ao portador daquelas ideias. Vários pensamentos, adquiridos com a vida, através dos livros, nas passagens corriqueiras, associados aos conhecimentos de causa constituem o pilar básico da ideia. É simples, mas no momento em que a publicação se depara com a aprovação (subentendida – ou não) do ‘social’, a história muda; o suficiente para que haja a saudável preocupação de como, o quê e por quê aquele acontecimento, fato ou mesmo ideia esteja sendo alvo de publicação na rede de interesses infinitos que alcança o mundo. Então, nesse momento, a diferença entre o viés jornalístico-informativo e a opinião pessoal altera; mas a maioria não tende a acreditar nisso. É a partir desse momento que o conflito entre os ‘blogueiros’ e jornalistas impera.

A pessoa pode se interessar em discutir assuntos vagos, sem intervenções psíquicas sociais nenhuma, formando um aglomerado de ideias supérfluas. É direito pessoal. No entanto, ainda nesse sentido, é necessária a coerência básica sobre o que pode interferir ou não no contexto em que a sua profissão o insere. Caso não se preocupe em tratar de um viés responsável e conciso, que de certa forma reflita a imagem da personalidade que é responsável pelo endereço, o autor, certamente, não utiliza o blog com fins informativos e sociais.

O “universoparalelouco.blogspot” é de minha autoria e sou a responsável por todos os textos nele disponibilizados. É totalmente meu, isto é, cunho de devaneios único, com um viés, portanto, que cabe a ser identificado e sustentado pelas minhas intenções, desejos e anseios enquanto profissional que, antes disso, sou cidadã comum, com interesses sociais qualificados pelo meu conhecimento.

Afinal, o jornalista também é blogueiro, no entanto, nem todo blogueiro pode ser jornalista na concepção informacional que a profissão exerce. As possibilidades do mundo tecnológico auxiliam e levam para os bastidores da notícia, fatos mais apurados e respeitados pelas fontes, pois os recursos que compõem a ferramenta do jornalista correspondem ao que alguém com título de blogueiro reformulem e aperfeiçoem opinião.

*Artigo entregue como nota parcial da disciplina Comunicação Digital e Ambientes de Aprendizagem, do curso de Pós-Graduação em Comunicação Digital e Novas Tecnologias da Unit.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

parte de um pedaço que se mova


Em qualquer fresta que não mais caiba o afeto pode ter certeza que estarei lá. Por mais que haja susto achando que o humano que em mim habita mereça, sem certeza, meu lado nada ileso se acenderá como o cigarro que no meu bico agora toma-se inteiro em chamas. Mesmo que seja segredo, aliás, quando não há o que se fixe como paradigma é mais saboroso, mais ofegante, mais corpo, mais pedaço em movimento. A respiração que extravasa o peito, sem perceber que o canal inalador já não mais controla a (des)ritmia, arrepia meu sangue pulsante e crônico.

Pode uma nuvem cheia não chover?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

ponto (minimalista)

Até que ponto acreditar (ou não) no seu reservatório de forças é fundamental? Quando é que dá para perceber o momento de euforia diante das borboletas azuis que não param de se amontoar no nariz? Como é enxergar o desenho do seu cereal? Até que ponto ser tão ostensivo no potencial é positivo? Mas não é? Ou "ser profissional está fora de moda" se aplicaria mais ao contexto?

O negócio está na forma em que você encara os acontecimentos e o modo em que eles permeiam a sua rotina. Caso sua vida tenha a ver com a melodia de acordes afinados, a partitura poderia ser um de seus caminhos a percorrer nessa viagem, com direito à intersecções digníssimas a serem compartilhadas nas notas. No entanto, se o seu atributo está instaurado em gritos ensurdecedores sem nexo e fim, o ponto máximo de se crer em algum potencial aí conjecturado é até aonde você quer chegar. A pretensão às vezes é demasiada, insufla o ego, te esmaga a mente, te cega os ouvidos e ensurdece os olhos, mas como "para toda proporção, uma medida", então, nada mais natural que uma comparação medíocre como essa.

Já virou lugar comum tratar de assuntos como este. Ou será que eu estou virando um tipo desse? Como seria eu, by myself, transfigurada em lugar comum? Aonde meus ideais parariam?

- Até que ponto ser a demasia é positivo? É bom mesmo?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010


Aparentemente uma nota, um tom musical
Que da dupla de letras
transforma o real em um significado abstrato.

Onde muitos gostariam de estar
ou ao menos procuram se encaixar
para encontrar seu eixo
como forma de construir
seu telhado de tesouros
repletos de melodias consoantes
indestrutíveis.

Tem gente que não sabe, apenas pretende
procura estar
mesmo sem saber que lá pode ou não se encontrar
extender sua imaginação
subtrair-se do real
aguçando o imaginário por encontrar
o pote
potencial.

Geométrico, uniforme, contido,
contudo,
sem formas, apenas homônimo daquele canto
onde bilhões correm para proteger-se
do inconfundível, ensolarado, circunstancial.

É lá onde eu, você e ele queremos estar
mas não gostaríamos de saber que poderíamos nos encontrar.

Porque lá é um lugar meu,
um lugar seu e dele, sem pretensões de contexto
e afinidade. Apenas o pretexto
de poder metrificar a insanidade como
fuga do irracional.

Lá.

domingo, 25 de julho de 2010

espasmo de uma labuta - lado B



Pode ser óbvio, mas percebi naquele dia que não se tratava mais disso. Quando encarei aquela luta (normalmente diária) da subida na lata de sardinha humana, comecei a enxergar a situação com um jeito peculiar, eu diria. Era meio dia. Pessoas idosas inseridas na faixa preferencial e a via de acesso para o caminho das asas da borboleta começou a duplicar. Não devido às cabecinhas brancas que passaram a ficar acomodadas nos assentos, mas porque as mãos agarradas ao cano de ferro (ensebado pelo uso diário de milhares de pessoas) transformaram-se em muletas para o meu par de miolos que naquele instante, começara a trabalhar de forma diferenciada ao esperado de costume.

Assim, as pessoas, por sua vez, trataram de evidenciar atributos que até então eu desconhecia em mim (ou até mesmo de conceder esse tipo de identificação racional sobre qual a relação entre aquele trajeto urbano e a vida do indivíduo inserido na massa popular).

Tudo, menos ensejo.

O anseio era outro. Talvez uma subordinação ao fator que tem aflorado em mim nos últimos tempos – pelo menos quando comecei a recorrer a fontes sustentáveis sobre a minha certa habilidade de percepção ao que é intangível. Bati o olho no rapaz com nariz esganiçado, situado acima de todos aqueles que assim o viam e o reverenciavam ao serem submetidos à cobrança por seu conjunto de nariz de bolhas não somente pelo toque, mas principalmente pela necessidade de passagem pela borboleta; e identifiquei que seus olhos deixaram de respirar esperança para ceder espaço às penúrias então apresentadas pelas criaturas com varizes, remelas, brotoejas, perebas e dermatites nos seus respectivos subsistemas. Talvez ninguém havia encontrado o diagnóstico deste trabalhador de forma tão freelancer-pelo-bem, nem sei também se eu gostaria que isso acontecesse, mas, incisivamente, ocorreu. Nada em troca - a não ser meu troco de dez centavos. Visualizei a então Dona Maria Cobradora Progresso em sua casa, debruçada em mazelas do cotidiano, esperando a ampulheta terminar de cuspir areia para que o sono pudesse surgir e, assim, esquecer a imperatriz da necessidade: o que faz sua família trilhar o caminho para alcançar a mais valiosa das necessidades. Hoje em dia, como é que se diz felicidade?

Mas Dona Progresso não se lamuriava pela ausência do cacique no seu barraco do morro, como da mesma forma, descartara também essa possibilidade devido à desistência de sua ‘ninhagem’. Nenhum da dezena buscara alcançar à quilometragem mínima para se chegar aos bastidores do balcão daquela padaria e pedir não pelo pão doce recheado de goiabada. Mas o que ela, Dona Progresso (e mãe!), aprendera no século passado: os sonhos saem de uma fornada diária. E não há quem duvidasse. A desistência pelo rumo imposto pela safra sanguínea fora concedida pela força do ego (de cada um) em insistir por ser dominantemente opressora e ofensiva em relação às indulgências descriminadas para o plano superior. E ela tinha ideia disso. Nem organograma, tampouco planos estratégicos haviam sido vomitados em alusão à chamada “saída de emergência” – isto é, solucionar as demandas geradas pelos efeitos mais simbólicos e menos respeitados na lista de econômicos. Embora Dona Progresso soubesse da necessidade de alimentar os pulmões, seus alvéolos não eram mais os mesmos. Tinha uma escova de ferro no fogão de duas bocas e o cheiro de queimado estava em suspensão. A única forma de apagar o incêndio de sua vida que ela tinha conhecimento era esperar seu marido Progresso do Uniforme Azul chegar em casa. A partilha minimizava os efeitos das rupturas no seu peito. Aliás, eu, à caminho do trabalho, naquele transporte lotado de infortúnios, conseguia enxergar a casa dessa família, o trajeto desempenhado por ele (da padaria na esquina à precariedade da infra-estrutura do local), como também conseguia ouvir sua esposa através das madeixas do pensamento que ele fazia – a quem eu tive “contato”.

Saber se o outro prefere azul a amarelo, se tem um guarda-roupa em casa ou prateleira, se ouve música para dormir ou canta no chuveiro, se espera pelo namorado ou esconde-se dele, se prefere pescar a vender água de coco, se tem dente ou usa dentadura, se gosta de doce ou salgado, se corre nu em casa ou faz isso quando vai à praia. Vai à praia ou pula da ponte do rio-mar? Se o que dorme na calçada está ali por invalidez social ou inutilidade psíquica, se a moça da propaganda sorri de verdade ou ela nem existe, se o casal enamorado se completa ou apenas agüenta por questões sexuais.

Isso tudo enquanto ouço meu som, tento ler o livro indicado para eu conquistar meu espaço na atmosfera à caminho do gera-reconhecimento, ou, se preferir, do trabalho mesmo. Puxo o cordão de nylon esticado no teto, o grito é acionado, a luz acende, o rapaz do nariz esganiçado, chamado Progresso do Uniforme Azul, grita ao seu colega à frente para que a lata de sardinha humana motorizada pare, sem imaginar que sua existência é assistida por muitos. Infelizmente ele não sabe disso hoje para aproveitar mais o contato.

E o efeito é de passagem.

terça-feira, 29 de junho de 2010

espasmo de uma labuta - lado A


O que é um trabalhador senão aquele que sai do conforto do lar em busca de novos rumos para suas aspirações? Ao contrário do que muitos acreditam, custa caro. Dia desses me deparei com dois velhos amigos e nos flagrei contextualizando/contabilizando essa rotina - tomei nota.

O galo mal canta e a sua preguiça começa a se esvair em baixo do chuveiro. Alguns preferem ser rápidos nesse momento, outros aproveitam para programar seu dia ali mesmo, contabilizando os gastos entre um azulejo e outro, com o sabão escorrendo pelo corpo e respingos fortes no nariz. A cabeça se refresca. O pé descalço faz do tapete o protótipo do que as próximas horas serão: enxarcadas de pegadas densas até que se direcione ao prumo certo. Uma caneca suada, um copo gelado, maxilar ativado e lá se vai você encostar o umbigo na pia. Cerdas esgaçadas, cansadas de tirar o limo dos dentes, já nem fazem mais seu papel direito (ou da forma que você deveria ter feito). Então, recorre à cachacinha sabor mentalcalipthus para purificar o ar, hálito. Ao arrumar os papéis, a sombrinha, o fio dental e as moedas, você dá espaço para guardar junto no malote, um pedaço do seu cheiro e todas as mandingas para o dia; enpacota tudo, guarda nos ombros e vai-te embora. Aliás, vai até o próximo abrigo - é ali onde as raças se misturam, conversas desafinadas didalham os ouvidos, mãos ensebadas dão forças ao apoiador de sardinhas na lata - e segue ao local onde te recebem com gosto (afinal, é você quem fará as coisas fluirem dali em diante; e se as coisas fluem, o chefe reconhece, a empresa ganha e quem sabe você também não consiga um agrado no final, antes de chegar no fim de linha?).

Horas passam sem cessar, seus miolos começam a funcionar, sua máquina também: tudo por mais - e você, trabalhador, às vezes por menos. Esse é o jingle mais cobiçado. "I'm love in it" é fichinha. Porque o interessante é crescer, crescer, crescer, crescer! As parafusetas da biboca quebram, você não. A luva rasga, você não. O pneu fura, você não. O filtro congestiona, você não e sua mente nunca. Por isso que a refeição que quebra o dia em duas etapas pode ser 'tapeada' com umas migalhas e outras entre os dentes e pronto. No máximo, um cimento a mais no estômago que é para entalar e a sensação ser a de mais saciável possível. Em outros casos, quando se tem a sorte de ter o prato e a farinha, você come o pescoço da gaLinha sem nem dar conta da asa e do peito. Pra quê? Quanto mais entalado, esgotado, esvaecido melhor. Isso faz parte da falsa sensação de consumado. Você é o consumido.



"Como arroz e feijão, a vida é feita de grão em grão".

quinta-feira, 24 de junho de 2010

nova graduação - do tipo suicída

(p.s.: Prepara-te, devaneio é assim mesmo).


Até que ponto deve-se interferir no ponto de vista de pessoas que você admira? Quando existe liberdade de expressão o suficiente para dizer o que se pensa, sem refletir sobre as possíveis (e talvez previsíveis) consequências? Ou quando existe algo que te faz envolver-se demasiadamente e por esse motivo existir, você acaba exprimindo toda sua opinião? Me questiono se ainda não há uma graduação para ensinar tais modos.

Seja em relação a um caso amoroso, a uma dúvida do que é prioridade e à questão de afetividade, você, enquanto possuidor de laço fraterno com outro indivíduo, acaba se posicionando fervorosamente sobre o dilema que estiver em pauta (ou não). No instante da conversa, a questão não é solucionada, embora também não seja discutida em vão. A problemática reside em si a partir do momento em que existe respeito e gratidão à pessoa em questão e você, o terceiro personagem, começa a querer narrar a história do ponto de vista que seja o mais respeitável e digno possível, com um viés direcionado ao bem desse outro indivíduo. A trama não envolve pessoas estranhas (pelo contrário!), trata-se daquele seu amigo de todas as horas (como queira interpretar). Do sorvete na esquina em um dia chuvoso, à risadas aleatórias em situações (in)apropriadas. Seria, portanto, alguém de prestígio. E você poder acompanhar a trama de perto e longe é esquisito - ainda mais por ter a responsabilidade em emitir uma opinião que trata da persona deste amigo, irmão, qualquer um da árvore genealógica, bróder, coligado, mano, truta, fuckdjunqs, enfim, trata-se da felicidade (ou não) dessa criatura.

Pede-se o seu ponto de vista.
Você emite opinião. E a partir do momento em que você percebe que este posicionamento interferiu (ou não) no andar da carruagem da trama, sim, se você for ser humano de verdade, o seu coração aperta por conta da expectativa. O papel da amizade não extingue nenhuma palavra do vocabulário, é fato. O amigo interrompe o pensamento do outro para mostrar o que pensa e avalia ser certo e justo para que este, por sua vez, pondere. O coração, a alma, a mente, o ouvido de ninguém é pinico, eu sei. Mas se você foi designado a dizer o que pensa... E aí? Graduar-se na faculdade de Abstenção dos Problemas Inter-Pessoais do Seu Próximo seria o caminho? Solução pequena, mesquinha. É preciso fugir desse tipo de sala de aula, com urgência clínica. Abster-se a algo quando se trata de amizade - seja ela conjugal, familiar ou inter-pessoal - é assinar um documento suicída. E acredito.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

berradeira de viola


shouting

Esse tempinho cinzento, todo chuvosinho, dá uma vontade de berrar aos quatro cantos o quanto você é viva; o quanto que se sente poesia ao respirar mesmo que metástases humanas. Vuvuzelas não, sons de berrantes saltam-lhe o peito como forma melódica de entoar a batida da sua rotina, numa mescla de cor, cheiro e sentido.

É desse balaio que parte da minha composição é feita, com direito à muita forma e conteúdo, pronomes pessoais sublimes, condições imperfeitas que se tornam conjugáveis e sintaticamente aplicáveis.

Basta acordar todos os dias para sentir o que se sente e gritar - é disso que eu trato.

domingo, 13 de junho de 2010

do cansaço ao esclarecimento

Ponte de acesso

Hoje eu acordei com um estalo na cabeça, foi o barulho e a intensidade dele que me fizeram mover esse corpo enorme de cima da cama e levantar. Mal abri os olhos e vi o meu cansaço do lado de fora, como se estivesse na minha frente, pedindo que eu o socorresse, pois ele não queria se cansar vivendo desse jeito dentro de mim. Eu tentei ajudá-lo, mas ele toma muito espaço e talvez por justamente se chamar cansaço é que suas entranhas sejam tão esquisitas e mal concentradas. Aliás, não-concentradas. Todos seus mecanismos, cheios de dificuldades de acesso e inoperáveis, fizeram com que eu realmente nem fosse de encontro. O que evitou a duplicação do cansaço. Forças estranhas, que não colaboram com o seu crescimento, tampouco com sua realização, felicidade e desenvolvimento, se apropriam com maior facilidade ao seu corpo que exala cargas positivas com o intuito de carregá-las da forma mais conveniente possível.
Mas... (sobe som de super-herói) Eu percebi que o cansaço queria mesmo alugar meu corpo para fazer-me de ferramenta à sua ociosidade plena e... o que fiz? Comi chocolate até a orelha. Em seguida, fiz uma pequena meditação com o intuito de canalizar minhas forças em prol da unificação de mim mesma e me conduzi ao lugar certo. Levei o namorado da minha melhor amiga de infância comigo. O melhor namorado de amiga de infância que tenho. Um querido! Um doce. Um fotosensível (é assim que se escreve?) suave que procura sua melhor atuação em formato de gente. Recorreu à mim e, honrosamente, o levei comigo para uma reunião na qual me sinto acolhida. O que aconteceu? Ele saiu renovado espiritualmente, menos confuso, melhor orientado e com o faro ainda mais apurado. Agradeço-lhe pela ponte de acesso que ele criou naquele momento (sem mesmo perceber), me ajudando a esclarecer uma dúvida terrena infantil, mas inquietante que tinha.

"Os erros são feitos por falsos prazeres", via Breno Moura, o cara citado acima.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Beijo na testa


Bom mesmo é ter a oportunidade do seu trabalho envolver mesmo que poucos, mas profissionais competentes e capacitados; com recheados momentos vividos a serem compartilhados. O lado do jornalismo que eu mais gosto é justamente quando esse envolvimento começa a ir além da visão semiótica, fazendo de uma simples ênclise, o viés a ser destrinchado pelo dia a dia.

...pausa...lapso...senso...retomada...


Falava de prestígio. Queria ressaltar como aprecio profissionais que realmente contribuem para o desenvolvimento de algo, nem que seja o dele próprio; imagine de outrém. Em homenagem à isso, a recitação do poema "Consulta Médica" de Hermes Fontes e um beijo na testa denotam um significado que talvez poucos poderiam apreciar..


E tenho dito.

Foto: Google Images

quarta-feira, 19 de maio de 2010

airofue


De acordo com o dicionário de português online, o significado dessa palavrinha rica em vogais também é de sensações. A pessoa fica eufórica por motivo de satisfação e de grande alegria.

Definição de Euforia
Classe gramatical de euforia: Substantivo feminino [s.f.] - Sensação de bem-estar, de satisfação; grande alegria.

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A partir do momento em que você acredita que três meses serão noventa dias de aprendizado, com direito à rosto na lama, você fica assim, com o coração parecendo a zabumba de São João, a mente psicótica - que não para de te responder a sensações esquisitas e até esquisofrências - e nada mais faz sentido senão algo que realmente te acrescente e te proporcione crescimento espiritual. O lance todo é que as pessoas hoje em dia estão em falta com isso. Quanto mais descaso você der a si mesmo, mais inteligente as pessoas pensam que és. Ok. De onde vem o senso? A calma já me deram a procedência, mas essa sensibilidade em observar com destreza o que a rota da vida quer te dizer, é complicado de enxergar. E os que vêem são cegos.

*Foto: http://fotos.sapo.pt

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Santa Paciência viajou para longe


Fiquei ansiosa durante aquele dia todo para poder encontrar os amigos no fim das minhas atribuições, mas, sob a intervenção de apenas um, meu gosto foi por água abaixo e... ainda bem! Tinha aula no dia seguinte - nessas horas eu percebo como isso se torna justificável para a nossa consciência. Às vezes preciso de alguns empurrões do tipo para conseguir enxergar o que o espelho grita diariamente... mas uma vez míope, sempre com visão turva. E é o que realmente acontece.
Tem acontecido.
Não sou mais aquele ser humano dotado de litros e quilos de toda a paciência do mundo, cujo intuito sempre tinha a ver com a predisposição dos outros. Sim, era muita importância dispensada a criaturas que, logo em seguida, me dariam aquela cotovelada "sem querer" na boca do estômago - a mesma que damos quando subimos no ônibus coletivo e identificamos uma situação da qual precisamos agir. Então!
Essas intervenções me cansam.
Têm me cansado.
Acho que estou contando com a regressiva de tempo para o ano que vem. Não sei mesmo o que meu subconsciente tem planejado. Quer dizer, sei sim e tentei explicar.
Já não respiro mais a poesia das coisas que me representavam à vida, nem faço lá muita questão. Tenho achado muito pertinente acordar, sorrir e dormir para conseguir sobreviver e o quê? Chegar até o ano que vem, como eu disse.
[Depois que nossos rostos ficam à disposição da não bondade dos outros e levamos aaaltas na cara, ficamos assim. Nem se iluda.]
Mas é isso.

Sem paciência para os "muito doidos" que surgem na minha vida e que insistem em se envolver comigo. Até caio nessa, mas tenho tido uma percepção mais aguçada sobre essa perspectiva e me cobrado ações mais decisivas quanto a isso. O cara que se habilita a ser "bicho grilo" a essa altura do campeonato (da vida!), para mim só é aceitável quando ou é muito inteligente ou sabe tirar proveito da famosa tríade woodstockiana setentista. Não é a toa que tenho um amigo muito específico que cabe diante do contexto; não o aturo, porque faço mais que isso: o respeito e justamente nesse sentido que ele é um dos meus melhores. Tem minha consideração por saber conciliar tamanha inteligência com as maluquisses empregadas pela própria vida que o mesmo as atribui e ainda encorpora. Desde o ginásio...

Já outras criaturinhas, bicho, sem tesão nenhum para tentar aturar. O bom é que a pessoa que deveria ler tudo isso, não dá a mínima para esse hábito, se confunde nos pensamentos, não consegue agir com eficácia e acha que sabe de alguma coisa. Dá uma dó.
E a minha santíssima paciência, que deveria me rodear, pegou suas roupas no varal da vila do Chaves, já arrumou suas trouxas, conseguiu carona com o pica-pau e foi para muito mais longe que o mundo subterrâneo da Alice da nova juventude. A minha paciência atravessou gerações... tá muito longe, inclusive, de ser (re)conquistada.



*Os mais sábios me dizem que esse relato e outros tantos formam um conjunto típico para a idade. Quando o caju deixa de ficar travando, sabe?


Imagem: universo Google

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Desversificando-me


Sentido disperso, viajante
quer dizer, melhor que isso - no sentido denotativo da coisa:
vagante.
Ao tempo em que preciso de propostas,
(das mais indecorosas)
percebo que quanto menos as tenho,
mais certeza tenho sobre o meu futuro incerto.
É preferível. É mais digerível, eu diria.
Me sinto menos e mais ao mesmo tempo.
- Euforia na hora do turbilhão de sentimentos aflorarem -

Mas também não prefiro sentir-me
dependurada em um canto oco da vida,
atrás de um ponto de ônibus lotado de esperança tangível;
quero decidir qual a melhor dança para o sapateado
mesmo sem saber rezar.

Quero me ver, me encontrar
sem me trair, mas podendo espernear.
Não quero não saber o que fazer deliberadamente;
penso que nesses casos seja necessário assistir tantos erros cometidos
para desaprender a repetí-los.

Sem (des)culpas. Sem poréns.

*João de Santo Cristo tava no meu ouvido enquanto tentava vomitar essa cadeia de palavras.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Kit limpeza para a picaretagem


Será que agora com o texto-base do projeto "Ficha Limpa" o cardápio de candidatos políticos vai ficar mais restrito e selecionado? Bem, se isso significar ter que colocar aqueles que tem antecedentes criminais de escanteio, pode-se dizer que ameniza sim. Mas se a lei não foi sancionada e só houver o projeto, será que o povo vai se importar com a relação dos políticos que já colocaram a mão na massa em falcatruas e que isso vai interferir na hora do voto? Bem... existem perguntas e respostas que nos remetem a uma outra história.

Escovões, vassouras e baldes gigantes foram as ferramentas utilizadas pelos manifestantes na rampa do Congresso para pressionar pela votação do "Ficha Limpa".

Projeto

A Câmara dos Deputados votou, por 388 votos contra um, o texto-base do projeto que veta a candidatura dos políticos com condenação na justiça, o chamado "Ficha Limpa". E, além disso, levou um peso extra no dorso: mais de 2 milhões de assinaturas foram colhidas a favor do projeto (confira) - número atingido às 22h40 do dia 3 de maio (em seguida, o projeto foi aprovado). Na ocasião, a ONG que fez os preparativos para o ato, Avaaz.org, realizou um protesto na capital do país com os nomes de todos os brasileiros que pressionaram a Câmara pela aprovação do projeto.


Foto: Givaldo Barbosa / O Globo

terça-feira, 30 de março de 2010

Feixe irradiante


Fenômenos acontecem, isso é óbvio. O mais interessante nesse caso é que as pessoas atribuem qualquer manifestação à natureza e... pronto! Acaba esquecendo do poder que 'as luzes' influenciam sobre os homens, nessa atmosfera mediana na qual vivemos intempestivamente.

Levando em consideração esse aspecto, imagine-se em meu lugar: como um dia qualquer, você olha para o céu por olhar, por contemplar - sem muitos motivos óbvios, apenas por gostar de apreciar o que é bom e que lhe faz bem - e eis que a lua sorri mais para você do que o costume. Resultado: uma circunferência perfeita e simétrica englobando a gorduchinha irradiante fixa-se no céu por muito tempo (e suficiente para você devorar um sanduíche gigantesco com engordeirante livre e fritas acompanhada de seu amigão). Agora, o efeito que o céu photoshopou naturalmente, criando um espetáculo emocionante e envolvente, é simples: tem referência ao que é divino e maravilhoso. Apenas.

*A figura que ilustra o texto, suguei do Google Images, e achei que foi a mais próxima do ocorrido; já que o flash da minha câmera nunca alcançaria o feixe irradiante que entornou a lua no último domingo.

terça-feira, 23 de março de 2010

Conversa séria - constelando


O que é mais importante: a felicidade ou o momento?
Com a primeira você vive tudo, inclusive a intensidade daquele que a vive atribui. E do momento você filtra o passado que já foi, o futuro que ainda não é, para só então reconhecer o presente que se vive. Por isso que o mundo às vezes é pequeno para tantas cabeças que pensam e conversam entre si.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quanto custa a verdadeira felicidade?


Já nem sei mais quantas vezes assisti o filme Into The Wild, mas hoje fui na versão dublada; e, acredite, até assim o filme consegue ser maravilhosamente perturbante e dócil - em todas as situações fiquei inquieta com a mensagem fisgada.

É baseado em história verídica de um cara que atravessa seu país em busca de seu sonho. Enfrenta os medos impostos pela sociedade, descobre a generosidade até então nunca vista, percebe que a sabedoria é vindoura e assim o filme transcorre, como se fosse um livro - demonstrando todos os ensinamentos que ele vive e enxerga à sua volta. No final das contas, o expectador percebe que ele foi mais feliz em dois anos intensos nos quais ele atingiu seu objetivo e solidão, totalmente into the wild, do que se somasse tudo o que vivera dali para trás em 23 anos.



"Hapiness only real when shared"

"If you want something in life, reach out and grab it!"

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sensação: esmagamento


Estava parada, sem redomas, apenas sentia o vigésimo pôr-do-sol do dia, quando de repente, alguma coisa pulou em cima de mim e me agarrou; invadindo meu rosto, pescoço, braços e minhas pernas. Fixou-me algo nos olhos que nada mais pude enxergar naquele momento. Porém, esqueceu-se de que a "memória é uma ilha de edição" e tudo o que vivera até ali havia sido armazenado com direito a melodias, cheiros e sabores.

Nada mais a mim importava.
Do jeito que me deixara, continuei. Continuei pálida, fria, congelada. O castelo logo desmoronaria e essa alguma coisa perceberia que o sentimento é inalcançável, assim como as cores multifacetadas que brilharam na minha pupila durante as expressivas passagens do sol pela minha janela. Repentino? Não. Duradouro.

- O bule já sinalizou novo estado de emoção do que ele armazena em si..inside.

- Isto é, sem amarras, pois já era hora de levantar para encarar a maestria do dia lá fora.

- Bom dia!


Foto: RPassos

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Rememorar

A exigência que eu tenho com os fatos que acontecem no presente e que logo torna-se efêmera e coisa do passado geralmente passa despercebido por aqueles que não acreditam nisso. Confuso? Não. Somente que existem pessoas que acham as manifestações corporais muito mais apetitosas que um sucumbido calendário pendurado na parede da cozinha que remete à um convite (in)esperado. Mais ainda: que só tem valor aquilo que eles (estes os quais direciono esse pensamento) deduzam que tenham; até porque a folhinha que marca os dias do ano é tão passageira quanto ao corpo que reage a alucinógenos baratos e por aí vai.

Por isso (ou não), compartilho um espasmo que tive na mesa molhada de um bar com um amigo transcedentista, em agosto de 2008, em meio à "tempestade de devaneios" que tivemos juntos:

- Essa história de esquecimento parece mesmo perder-se no meio da avenida atropelada por analogias olímpicas, principalemnte quando duas mãos anormais estão submetidas ao placar decisivo do que se pode ser sentido. Ponto final talvez não seja bem-vindo, mas, porém, contudo, todavia, gnomos surgem sem perceber. E aí? Maçã? Bem..pode ser!

- Um cigarro e um vinho, talvez uma batida pra aquecer.

...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ouvi(ndo) por aí


- Ninguém entendeu. Aquele domingo que trouxe a chuva, em companhia dos relâmpagos e trovões para o início da noite, foi justamente com o intuito de tranquilizar a alma de muitos que têm sentimento puro (ou seja: misericórdia) e que vêm para essa escala da vida a fim de nos equilibrar.

- É tenso...

- A chuva mitiga os poros abertos daqueles que sofrem. Muitos não percebem ou fazem-se de desentendidos. Tudo é tão divino e maravilhoso...basta apenas prestar atenção no refrão e ficar atento à sorte, sem temer a morte.

- É, tenso.

- E acredita quem pode.

sonhos e abrolhos

Tenho andado distraída com tudo. Esse momento de renovação de contrato com a vida é intenso demais e às vezes me deparo com situações que eu nem queria passar. Na verdade, preferiria que as partes onde há espera fossem puladas como quando eu brincava de escalar pneu em tempo de colégio, em que a regra era básica: um salto atrás do outro.

O tempo não para e as minhas vistas não são mais as mesmas em relação à tudo o que ocorre ao meu redor. As vértebras estão preocupadas com o amanhã e ninguém consegue me responder mais nada.

Fatos ocasionalmente especiais que perduram a vida inteira, mas que, no entanto, são vindoiro apenas para os que enxergam em uma dimensão superior a esta. O que é raro e muitas vezes espero demais que aconteçam. Por isso que uma coisa é certa: vou atrás de mim.

Parece nada com nada, mas sou eu com uma pegada intimista de leve, onde tudo pode(ou não) ser sonho e abrolho.