Partindo da minha chegada à Terra, já escolhi nascer no mesmo dia que o dele. Preferi causar incômodo e dores maiores na minha mãe e passei quase 20 dias a mais no ventre para dar os primeiros gritos num dia 19; que nem ele. A partir daí, as desavenças contraditórias causaram a nossa união. Eram as fraldas o tempo todo que tinham que ser trocadas até o talquinho nas assaduras do bubú..Ele realmente teve participação assídua na minha formação.
Mas antes d'eu ser alguém que representasse um espaço na vida, passei muito tempo sendo a 'rosinha roxa' que pedia para ser acordada 2 horas antes de bater o sinal do colégio para que ele fizesse um par de tranças -que pareciam dois toloquinhos imprensados- no meu cabelo. Eu achava aquilo lindo! Definitivamente, esse pentiado só ficava atrás do rabo-de-cavalo em cima da orelha; era o meu preferido. Deixar o meu cabelo torto era especialidade da casa (devia ser pré-requisito para pertencer à família). Fui crescendo, aprimorando a arte de pentear o cabelo e não precisava mais que ele as fizesse em mim...já conseguia fazer sozinha - mas antes de descer no colégio, lóógico que ele apertava bem a xuxinha; pq "cabelo no olho dá tique nervoso, filha! deixa eu tirar isso daqui" e lá se ia mais um tufo embora...
Falar em ir embora,
me lembro na época em que era moda ter carrinho para carregar a mochila -e aquilo tinha mesmo serventia! A professora sempre pedia todos os livros!! Nisso, depois de ter esperado quase uma hora de rango para ir para casa, meu irmão chegou primeiro no carro e ele, sem rodinhas, já ia com o bornal no colo e sentado no passageiro. Cheguei em segundo, abri o porta-mala e "Pow!" fechei. Mas o barulho é realmente semelhante ao que a porta faz, não é? Meu pai achou idêntico e foi-se embora!! Me deixando com os olhos arregalados, as pernas trêmulas e o coração apertado ali mesmo, na rua e em frente à porta do colégio. Por alguns segundos pensei que ele iria mesmo me deixar ao relento; mas nada que uns pulinhos e uns berros não o fizesse dar ré e me esperar sentar no banco traseiro.
Nesse tempo bom de criança, eu fui muito de aprontar. Testava a paciência do velho. De pavio curto como de costume, ele não tolerava essas coisas de criança ter birra nas horas mais inconvenientes, não. E eu paguei por isso.
Mas pagava numa moeda bacana...quase um masoquismo!
Enfim..
fui crescendo e atinando para as manhas dele na comunicação integrada à realidade sergipana. Aquilo tudo me fascinava. Aqueles jornais soltos pela casa; aquela plaquinha que pertenceu à sala dele por quase uma década que dizia "Gerente de Marketing" também me soava como sugestivo...Todas aquelas pessoas ao redor..Aquele horário incerto de chegar em casa..Aquela não conformidade com as atribuições feitas na sociedade..Uma intervenção categórica, diria. Tudo isso só fez me aproximar; mesmo que inconscientemente da sua realidade...que do 1° ano colegial até o 1° ano da faculdade de Jornalismo, fui estagiária dele na sua agência de comunicação. Eram clientes poderosos, influentes e até mesmo afluentes...e eu lá, no cantinho, observando cada movimento...e eram nos movimentos dos meus recortes de jornais que fui ficando craque! Clipping? Comigo mesmo! A tesoura segue no papel rasguento e manchado de cinza como uma navalha...Mas, por sermos tão iguais e parecidos nas atitudes (que eu tanto o imitei!), não nos dávamos bem no ambiente de trabalho -que era confundido com o familiar; sim! A sala fica a 27 passos e meio do meu quarto e a 10 da cozinha..), que, por unanimidade dele, que por conta da democracia estabelecida no lar, fui afastada do meu cargo.
Já era hora de sair das asas protetoras e arrebatadoras do papai; não?
Fui jogada no mundo totalmente business...e tentei correr atrás...tenho corrido!
E continuo a usar o outro lado do cotonete que ele usa, a mesma escova de dente, a mesma toalha que a dele, continuo a roubar as moedas de 50 centavos da sua cabeçeira para inteirar na passagem, também futuco a gaveta de meias sempre que é necessário, continuo o contrariando com as minhas imperfeições, continuo com as minhas confissões macabras, com as minhas ligações infortúnias, e ainda assim, ele me apresenta aos desconhecidos como sua vizinha de quarto; o que faz com que muitos pensem que temos um caso! Já tive aula dentro dos padrões acadêmicos e continuo levando as lições que aprendo no dia-a-dia para o resto da vida... Somos assim: librianos com a diferença de trinta anos no traçado e com tantas semelhanças na personalidade, que as vezes, parecem soar como diferenças. Aos poucos, a gente aprende com isso...aprende a perceber que são das controvérsias que nos trazem a oportunidade de um relacionamento um tanto quanto personalité.
E só para reforçar: o precursor da minha idéia de ser/ter um Pão com Durex... Ele tem total responsabilidade nisso que nem deve saber. Mas se sou quem sou hoje, sou uma pessoa praticamente no SPC por ele. Devo demaais ao meu guêno tanso... Ê criaturinha que me abençoa, viu?
-paaai, cê me busca?
-mas filha, é só apertar o botão que vc chega sozinha!
-eu sei...mas cê me busca?
o relógio nem funcionava direito e lá vinha ele, de samba canção abarrotada e cabelo engruvinhado que a mim tinham total semelhança com as vestimentas do maior super-herói, abrir a porta e me colocar para dentro; com total dedicação..
O melhor de tudo é que eu sei que é a pessoa que me acompanha e conjugará esse verbo sem cessar.
dá-lhe!
3 comentários:
nossa, ele é teu pai? kkkk, acho que o professor mais figura que vamos ter esse semestre :)
sempre te vejo na unit, mas nunca falei.. Oo' vou adicionar teu blog ao meu, gostei dos seus textos. =]
beijo!
Oi Raquel!Tudo bem? Está com saudades de Natal? Natal está sentindo muita falta de você.Nos visite o mais rápido possível.Estou curtindo muito seu blog.Lendo e relendo seu "Roteiro pré-destinado" foi que entendi por quê você é muito especial.Foi um grande prazer ter-lhe conhecido.Só me arrependo de não ter pedido um tufinho lindão. Bjs
Texto muito bem escrito, filha! A ilustracao eh horrorosa. Coloque uma foto mais bonita, please!!!!
Beijo, filha, te amo.
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