domingo, 29 de junho de 2008

O pouco de muito


Ainda dizem que cigarro é prejudicial à saúde. Aposto que todas as pessoas que falam isso nunca tiveram a oportunidade que o cigarro ofereceu-me recentemente. Depois de um Hollywood emprestado quando a noite parecia ter terminado, o vendaval de sensações veio num único fragmento de tempo. Quase três gerações isoladas por mesas plásticas dispostas à três passos de diferença entre si que derrubaram qualquer milimétrica distância; e esse diferencial foi o suficiente para estender o tempo e fazer da noite, uma madrugada tranquila. Mas...O quê? Humanidade e as divergências que ela proporciona a partir de sua relação com a tecnologia que tanto avança. Mas...e o Hollywood vermelho, onde fica? Em cima da mesa de plástico, acompanhado pela cerveja, pela garrafa de licor de chocolate com pimenta feita no bairro Coroa do Meio e seus respectivos copos. A função deles foi apenas atrair à singela união que houve, com as peculiaridades de cada idade: ora sabedoria, ora vivência. Ora conhecimento, ora senso. Ora encanto, ora descanso. Não uma coisa de cada vez, mas tudo acontecia ao mesmo tempo, numa sincronia perfeita para o elo criado...Black Nunes é o nome dele. A segunda pessoa que conheço com uma história de vida que é compatível ao seu intelectual. Sem aquela ladaínha de "superação" e tantos outros bla bla blá's para que o pior sentimento do ser humano seja aguçado na pessoa que vos escuta - à pena. Não. Apenas olhos que contextualizavam, com seu brilho nítido e cansado, cada frase formulada e expressão gesticulada; e que faziam das palavras soltas no ar, a partitura de uma vida. Black Nunes e seu cumpadre....soneca!? Sim, esse homem me remetia à um tonel de cachaça, um daqueles que envelhecem-se runs e tudo mais. Era olhar para ele que não demorava para enxergar uma garrafa de destilado personalizada: com direito à bigode contorcido e grizalho, chapéu de caubói e sotaque acompanhado por um teor engraçado. Ele lutava contra a força natural de seu corpo, exercida sobre seus olhos - era nítido! Mas a vontade de participar e interagir assiduamente daquela atmosfera encantadora, vencia qualquer cansaço aparente, assim que balbuciava pontos de vista (com malemolência naquela arcádia dentária e, lógico, a pertinência que tanto o acompanhava). Isso tudo enquanto Black fazia sua parte para com aqueles três jovens semelhantes que os apreciavam com tímida moderação.
E a negra cor provou mais uma vez seu potencial diante da sociedade escassa e manipulada...Sair de sua cidade de origem para se desbancar até o litoral cinza e frio de Santos para provocar àqueles que se sentem filhos dos que são alvos do progresso (pois os que 'fazem progresso' geralmente não têm praia em seu território de podres cimentos) é possuir, no mínimo, mérito.
Mestre.

Estudou suando por toda vida para mudar, algum dia, isso que se tem hoje nas salas de aula superiores. 25 mil livros consultados a todo instante vivem a seu alcance. Black tinha 40 horas de aulas durante certo ano, em uma certa universidade, nesse certo litoral distante. Tão distante, que todo o esforço para fazer dos alunos (da matéria de Psicologia) pessoas críticas e auto-suficientes em relação ao Intelecto x Humanidade x Sistema foi em vão. Em vão para os tantos -quase mil - estudantes dessa matéria! Porque, para Black, a iniciativa foi algo que deixou seu id realizado. Precisava mostrar para si mesmo que o potencial absorvido por ele seria suficiente para comprovar à plasticidade dos humanos da atualidade. Para provar, também, a falta de humanidade dentro de uma sociedade perplexa; e entupida por máquinas andantes. "Máquinas que andam", foi o que ele disse com um leve ardor em suas palavras. Depois de ter provado aos demais professores dos tantos cursos em que ensinara simultaneamente, Black foi tachado de 'querer aparecer', de incompetente, de preguiçoso; de tanta inveja dos outros. Por quê? É que ele resolveu criar satisfação nos alunos desmotivados, desinteressados e desprovidos da capacidade de exercer sua função no meio social a partir de uma iniciativa inovadora - quando é real a iniciativa, ela já é inovadora. O negócio era promover um festival de artes com/dos/para os alunos. O retorno que eles deram foi superior ao estimado. Até mesmo em relação à Academia: das 40 horas exercidas pelo sergipano da fruta-cor naquela universidade, Black ficou com o equivalente a 02. Derrota? Que nada!! Já era de se imaginar.

Mas a sensação de missão cumprida...é irrefutável; inquestionável; incomensurável. E depois dos 16 anos lutando contra os costumes frios e nebulosos daquele litoral sudeste, Black volta para casa, volta a ser o cumpadre de seu cumpadre de sempre, volta a respirar o ar que moldou a sua esfera de vida, volta aos amigos, volta e reencontra o Porão, volta e percebe sua volta, volta, apenas e simplesmente volta. Ahhh....como é bom.

Ainda dizem que o cigarro causa câncer. Mas..quem é que causa (um) câncer na humanidade, mesmo?

-"Posso filar outro da sua carteira?"
-"Fique à vontade, Black!"
-"Ótimo. Vou mijar"

E a noite acabou quando a madrugada já anunciava um novo dia. Uma nova percepção entre gerações distantes foi criada, analisada e, no meu caso, amadurecida; diria até que uma perspectiva mais acolhedora, para aqueles dois cumpadres que juntos formam um centenário vivido, foi sentida!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O homem já descobriu a lua...quero ver descobrir o Sol!


São tantos artifícios que engrandecem o ser humano, a cada dia que passa, não? Há novos meios de se fazer o que já era feito anteriormente; mas os rituais sempre vêm com muito mais aparato tecnológico para engrandecer suas funcionalidades. A alma, que rege seu corpo e direciona os caminhos da vida, não precisa de máscaras para desamparar os sentimentos congruentes que surgirem no percurso de cada um..É singular. Não existe pluralismo perfeito quando trata-se de ego e super ego..Talvez o id venha com mais parafernalha que os outros dois; mas faz parte da natureza! Assim como o céu está para o ar, o mar para a terra, a terra para a galáxia...E assim, a lua é descoberta. Como num passe atroz de mágica, os que dizem que pensam, que pensam que dizem algo, agem pensando que poderão fazer algo por motivos óbvios...Um número a menos que o meu pé e pimba! Em cheio nela; esburacadinha seja pela ação do tempo, seja pela precariedade ou especialidade dos efeitos naturais, mas ela está lá: fazendo seu papel social. Equilibra, de certa forma, o equilíbrio dos lunáticos terrestres; enquanto que eles, sonham em desequilibrar-se nela. Tanto fizeram o sonho, lapiradam-no, encheram de fru-frus e...já disse que foi um mindinho a menos que o meu pé, que fizeram a marca histórica quando meus pais tinham nove anos de idade, não se conheciam, eram felizes na simplicidade mórbida daquela vida e nunca pensariam que tornariam-se gente; e, tampouco, poderiam fazer gente e fazer duas gentes (?) pensarem...mas pensarem taaanto, que uma dessas duas gentes chegariam até aqui, fazendo seu próprio devaneio, de acordo com todos aqueles com os quais essa uma gente fora acostumada a escutar, entender e nunca querer esquecer??!! Pois bem...E lá estava o homem, fincando não só um pé para que o outro viesse gasosamente de uma só vez, mas também, encravava na vida, um segmento vitalício para tornar todas as formiguinhas que moravam naquela bolota azul - ali pertinho até - dependentes até o topo da árvore genealógica, das listras azuis e brancas, com estrelinhas, que balançava suave e naturalmente (e com a ajuda da gravidade), até então sem pudor, na superfície lunática. Mas, que descoberta, não??
Agora, vai...vai lá, idolatrado-salve-salve, país sambista! Quente e fervoroso, até a tampa de calor humano, com atitudes calorosas ao futebol de praia, de grama, de terra, de laje, de cera quente. Vai lá, vamos todos juntos e unidos, provar a instância da estrela maior!! Bronzear-se nas raízes longas e loiras de sua vertigem!
Querer demais, às vezes, é bobagem. Maquiar uma vontade não é a melhor maneira de mostrar sua beleza...Por isso, coloco um aposto e sugiro o oposto, que tal aquela bandeirola que tanto representa a América - e como já disse, representa também, todo o formigueiro do caos humano do mundo -, passear à vontade, sem Protetor Solar e pisar com uma Havaiana com um número maior que o sapatinho fincado na sabedoria da Lua, há...naquele tempo em que meus pais nem se conheciam ainda??!
etc. e tal.

Depois de ter escutado Jorge Ben Jor, cuidado!! Você pode não aterrisar...

Minha mãe me chama, Comanche!
Minha mãe me disse, Comanche!
Descobriram a lua
Quero ver descobrirem o sol
Sou comanche sou guerreiro
Sou índio sou perdigueiro


Solstício!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Liberdade por acidente


Quem nunca teve vontade de criar asas e sair voando por aí? Sentir esse ventinho no rosto, ter vez ou outra um calafrio por dentro e fazer vigorar a sensação de liberdade?

Já que, enquanto humano, criar asas de uma hora para outra é tarefa impossível, o mais indicado é aliar-se aos artifícios que facilitem e se aproximem dessa atmosfera – como muitos esportes radicais que propõem momentos de contato próximo com a natureza; de rappel, bungging jump, salto livre à asa delta e pára-quedas. Mas, para o padre Adelir De Carli, de 41 anos, essas facetas não seriam suficientes para promover “apoio espiritual” e demonstrar sensibilidade aos caminhoneiros da ‘ação pastoral rodoviária’ (disse ro-do-vi-á-ria e não aérea!!) com a qual acostumou-se receber créditos sociais à sua reputação; em Santa Catarina.

Ele precisava inovar para atrair a atenção da sociedade brasileira. E, assim, demonstrou toda preocupação em relação à vida desses motoristas – talvez o sofrimento que eles passam durante dias nas estradas o fizesse pensar acerca da situação atual da humanidade; num contexto geral. Ou não.

Para tal sensibilização, no início de Abril desse ano, o padre aderiu ao vôo livre (literalmente: liberto de segurança, de proteção pessoal, além de credibilidade e de amor à vida): utilizou 500 balões coloridos de festa infantil, à hélio, fez uma trajetória de 110 quilômetros. Conseguiu permanecer ileso, alcançou a tão sonhada liberdade de voar e, de quebra, estourou a admiração de muitos fiéis!

Os religiosos de carteirinha que me perdoem, mas é incrível como vocês têm a necessidade de demonstrar amor ao protagonista da Bíblia através de atos sórdidos e macabros. (E é impressionante como existem pessoas que relacionam profunda coerência a essas atitudes! Dirá, então, àquelas que têm um padre (que comanda alguma capelinha no interior do Brasil) com corpo presente e encabeçando tal saga com o terço no coração!?

Certa vez, disseram-me que não era preciso sequer ir à igreja para ficar em paz com Deus, mas que se alguém quisesse aproximar-se dEle para garantir o tal "lugar no céu", seria interessante que fizesse uma contribuição de leve na caixinha de dízimos – ora, essa é uma das partes fundamentais desse tal negócio! Bem, mas se muitos religiosos têm freqüência assídua em tantas igrejas o motivo é, também, por não possuírem um espaço digno dentro das vertentes que preenchem o perfil de um cidadão comum. E, assim sendo, a teoria mais exata é de que, sim, é preciso idolatrar gente que tem idéias insanas para promulgar de qualquer jeito o espírito catequista. Afinal de contas, o universo religioso é contagiante!

Não bastasse a façanha número um para promover a fé, o padre Adelir (com codinome Radical), preparou algo mais aprofundado para a lua cheia no final do mesmo mês. Se antes conseguiu viajar de uma cidade para a outra, dentro de Santa Catarina – De Carli saiu de onde morava em Ampére e foi pousar na divisa com a Argentina, em San Antônio depois de permanecer durante 4h15 ininterruptas no ar –, então, por que não conseguiria passar umas 20 horinhas flutuando na atmosfera até chegar ao seu próximo destino, no norte do estado? Bem, pensando nisso, a esperteza do quarentão resolveu ir além...E a quantidade de balões cheios de gás hélio foi duplicada.

Com mil bexigas de cores alegres e vibrantes, o religioso buscou o limite com a certeza de que garantiria o mesmo sucesso que obtivera na proeza anterior, esbanjando assim, sua vitalidade permanente depois dos seus quarenta anos vividos. Mas infelizmente deus não dá asa ao ser humano – tampouco por duas vezes consecutivas!

Depois de participar durante um mês e pouco de um curso de vôo livre, o padre fora expulso devido à sua falta de paciência com as aulas teóricas. Com esse espírito de pássaro incorporado, ele bem que conseguiu chegar até a fronteira argentina, porém, permanecer durante 20 horas suspenso no ar, por bolas de assopro, e agora com a rota apontada em direção ao sentido oposto, em pleno tempo de temporais, seria um ato não recomendável.

Até o presidente da Federação Paranaense de Balonismo o aconselhou a não se aventurar de tal maneira. Nem com reza e devoto de santo forte, a natureza poderia perdoar: vento e tempestade (que o empurraram para o sul, em direção ao mar) compuseram a cena da tal lua cheia do dia 20 de Abril. Para o padre, esses fatores meteorológicos até que poderiam ter sido sintomas de sucesso à sua viagem econômica e ambientalmente correta. Mas, para os que têm noção do perigo que todos os humanos estão aptos a se deparar, decolar por conta própria, decidindo duplicar a quantidade de balões de maneira tão aleatória e insensata, seria sinal de uma possível catástrofe em sua rota tão sublime - porém real e aérea!

Para o Sermão da bem-aventurança, acrescentaria um verso duplicado: bens aventurados aqueles que depositam fé dentro de bexigas com cores felizes; e bens aventurados também são aqueles que se aventuram por pastorais, com gestos insólitos, amém!