domingo, 15 de novembro de 2009

t a r p í c u l a s 3

Muita, tinha muita gente. Pessoas não-sonoras em todos os sentidos. Eu não consegui me reconhecer naquele espaço até um cara aparecer com sua mochila desengonçada, cheia de histórias, garrafas e aspirações. Destacou-se. Sua cabeça era um livro com subtemas aparentes e relacionados à toda e qualquer etapa que uma vida pode enfrentar. [O cara era colorido e o resto, preto e branco].
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O relógio toca!
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A tristeza surge, em um dado momento, para provar que o real vivido não é, absolutamente, o que se tem no imaginário. Daí você é acometida por esse sentimento trivial, sujo e frio e a única percepção que lhe é criada em mente é a de que também está inserida em meio àquelas pessoas cinzentas, sem meio reconhecimento.
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Destaque.
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No primeiro momento sim, pois os movimentos refletiam-se em gestos sonoros e com pigmentos de cores, mas é assim que se descobre que a associação é apenas uma associação.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

epiderme


Ouvi dia desses que atribuir sinceridade aos sentimentos é motivo de piada.
É como se não acreditasse mais e nem desse importância ao combustível que confere ao ser humano. Sua apropriação é dada em determinadas etapas da vida, nas quais você pode interpretá-las das mais variadas formas, inclusive àquela que, na sua concepção, é digna de retratá-la com o seu ponto de vista - é como se uma identidade visual fosse criada a partir do que se é vivido e encarado como etapa fincada em si. Tem coisas que a gente não explica, mas de vez em quando, tenta-se para fazer o outro entender e compreender do que há na sua composição. No entanto, tem horas que comentários escrupulosos são tão meticulosamente pensados, que a vontade de dizer alguma coisa é subtraída pela vontade de arremessar a pessoa no rio, por exemplo. Mas depois você solta o cabelo, desabotoa a calça e a camisa para pular logo em seguida, mostrando na prática, o valor desse sentimento, dessa atribuição, dessa identidade.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

como anda o seu léxico?


Certa vez ouvi um camarada dizer que "é dois", no sentido de afirmar sua condição diante do fato anunciado. Não é de se espantar, eu sei. No entanto, parei, acendi um cigarro e refleti. Cara, o ser humano consegue pensar em si até mesmo sabendo que o numeral pede plural, pede continuação.

-Que frio.. BrRrrr
-É dois!

Torna-se dois por associar-se a alguém, porém, o verbo conjugado no presente, em sua primeira pessoa do singular, justifica a afirmação anterior ao exemplo.

Linguística: Prôfa Ester Chimarrão Mambrini


Imagem: Kelly Nuñez, um achado googlístico

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

t a r p í c u l a s 2

Noite. Teatro. Frio.
Arrogância, disciplina e ideologia.
Do relógio não ouvia-se nada, apenas a voracidade de seus olhos que gritavam ao enxergá-lo. Não era tanto, o frio parecia acobertar as sensações, os sonhos e desejos. Naquele rosto, um capuz, onde a barba e sorrisos respiravam tenebrosos, de modo como quem sabia que sorria por sorrir. Na janela, uma revolução acontecia. Comunistas lutavam pelo espaço que a burguesia, por sua vez, tentava torná-lo propriedade a todo custo, mesmo com pouca propriedade; os comandados obedeciam. No entanto, carvões tomavam lugar dos muros fétidos das repartições moribundas, e o sorriso, sobretudo, tomava conta do capuz e de todo o tapete da sala de estar daquele aparelho rastreado. Era como se nada houvesse da cortina para lá, a única cena que valia à pena assistir era o de seus corpos, sob uma dança feita com vestidos de lunetas, passado, presente, particípio e sendo o mistério do planeta...