terça-feira, 29 de junho de 2010
espasmo de uma labuta - lado A
O que é um trabalhador senão aquele que sai do conforto do lar em busca de novos rumos para suas aspirações? Ao contrário do que muitos acreditam, custa caro. Dia desses me deparei com dois velhos amigos e nos flagrei contextualizando/contabilizando essa rotina - tomei nota.
O galo mal canta e a sua preguiça começa a se esvair em baixo do chuveiro. Alguns preferem ser rápidos nesse momento, outros aproveitam para programar seu dia ali mesmo, contabilizando os gastos entre um azulejo e outro, com o sabão escorrendo pelo corpo e respingos fortes no nariz. A cabeça se refresca. O pé descalço faz do tapete o protótipo do que as próximas horas serão: enxarcadas de pegadas densas até que se direcione ao prumo certo. Uma caneca suada, um copo gelado, maxilar ativado e lá se vai você encostar o umbigo na pia. Cerdas esgaçadas, cansadas de tirar o limo dos dentes, já nem fazem mais seu papel direito (ou da forma que você deveria ter feito). Então, recorre à cachacinha sabor mentalcalipthus para purificar o ar, hálito. Ao arrumar os papéis, a sombrinha, o fio dental e as moedas, você dá espaço para guardar junto no malote, um pedaço do seu cheiro e todas as mandingas para o dia; enpacota tudo, guarda nos ombros e vai-te embora. Aliás, vai até o próximo abrigo - é ali onde as raças se misturam, conversas desafinadas didalham os ouvidos, mãos ensebadas dão forças ao apoiador de sardinhas na lata - e segue ao local onde te recebem com gosto (afinal, é você quem fará as coisas fluirem dali em diante; e se as coisas fluem, o chefe reconhece, a empresa ganha e quem sabe você também não consiga um agrado no final, antes de chegar no fim de linha?).
Horas passam sem cessar, seus miolos começam a funcionar, sua máquina também: tudo por mais - e você, trabalhador, às vezes por menos. Esse é o jingle mais cobiçado. "I'm love in it" é fichinha. Porque o interessante é crescer, crescer, crescer, crescer! As parafusetas da biboca quebram, você não. A luva rasga, você não. O pneu fura, você não. O filtro congestiona, você não e sua mente nunca. Por isso que a refeição que quebra o dia em duas etapas pode ser 'tapeada' com umas migalhas e outras entre os dentes e pronto. No máximo, um cimento a mais no estômago que é para entalar e a sensação ser a de mais saciável possível. Em outros casos, quando se tem a sorte de ter o prato e a farinha, você come o pescoço da gaLinha sem nem dar conta da asa e do peito. Pra quê? Quanto mais entalado, esgotado, esvaecido melhor. Isso faz parte da falsa sensação de consumado. Você é o consumido.
"Como arroz e feijão, a vida é feita de grão em grão".
quinta-feira, 24 de junho de 2010
nova graduação - do tipo suicída
(p.s.: Prepara-te, devaneio é assim mesmo).
Até que ponto deve-se interferir no ponto de vista de pessoas que você admira? Quando existe liberdade de expressão o suficiente para dizer o que se pensa, sem refletir sobre as possíveis (e talvez previsíveis) consequências? Ou quando existe algo que te faz envolver-se demasiadamente e por esse motivo existir, você acaba exprimindo toda sua opinião? Me questiono se ainda não há uma graduação para ensinar tais modos.
Seja em relação a um caso amoroso, a uma dúvida do que é prioridade e à questão de afetividade, você, enquanto possuidor de laço fraterno com outro indivíduo, acaba se posicionando fervorosamente sobre o dilema que estiver em pauta (ou não). No instante da conversa, a questão não é solucionada, embora também não seja discutida em vão. A problemática reside em si a partir do momento em que existe respeito e gratidão à pessoa em questão e você, o terceiro personagem, começa a querer narrar a história do ponto de vista que seja o mais respeitável e digno possível, com um viés direcionado ao bem desse outro indivíduo. A trama não envolve pessoas estranhas (pelo contrário!), trata-se daquele seu amigo de todas as horas (como queira interpretar). Do sorvete na esquina em um dia chuvoso, à risadas aleatórias em situações (in)apropriadas. Seria, portanto, alguém de prestígio. E você poder acompanhar a trama de perto e longe é esquisito - ainda mais por ter a responsabilidade em emitir uma opinião que trata da persona deste amigo, irmão, qualquer um da árvore genealógica, bróder, coligado, mano, truta, fuckdjunqs, enfim, trata-se da felicidade (ou não) dessa criatura.
Pede-se o seu ponto de vista.
Você emite opinião. E a partir do momento em que você percebe que este posicionamento interferiu (ou não) no andar da carruagem da trama, sim, se você for ser humano de verdade, o seu coração aperta por conta da expectativa. O papel da amizade não extingue nenhuma palavra do vocabulário, é fato. O amigo interrompe o pensamento do outro para mostrar o que pensa e avalia ser certo e justo para que este, por sua vez, pondere. O coração, a alma, a mente, o ouvido de ninguém é pinico, eu sei. Mas se você foi designado a dizer o que pensa... E aí? Graduar-se na faculdade de Abstenção dos Problemas Inter-Pessoais do Seu Próximo seria o caminho? Solução pequena, mesquinha. É preciso fugir desse tipo de sala de aula, com urgência clínica. Abster-se a algo quando se trata de amizade - seja ela conjugal, familiar ou inter-pessoal - é assinar um documento suicída. E acredito.
Até que ponto deve-se interferir no ponto de vista de pessoas que você admira? Quando existe liberdade de expressão o suficiente para dizer o que se pensa, sem refletir sobre as possíveis (e talvez previsíveis) consequências? Ou quando existe algo que te faz envolver-se demasiadamente e por esse motivo existir, você acaba exprimindo toda sua opinião? Me questiono se ainda não há uma graduação para ensinar tais modos.
Seja em relação a um caso amoroso, a uma dúvida do que é prioridade e à questão de afetividade, você, enquanto possuidor de laço fraterno com outro indivíduo, acaba se posicionando fervorosamente sobre o dilema que estiver em pauta (ou não). No instante da conversa, a questão não é solucionada, embora também não seja discutida em vão. A problemática reside em si a partir do momento em que existe respeito e gratidão à pessoa em questão e você, o terceiro personagem, começa a querer narrar a história do ponto de vista que seja o mais respeitável e digno possível, com um viés direcionado ao bem desse outro indivíduo. A trama não envolve pessoas estranhas (pelo contrário!), trata-se daquele seu amigo de todas as horas (como queira interpretar). Do sorvete na esquina em um dia chuvoso, à risadas aleatórias em situações (in)apropriadas. Seria, portanto, alguém de prestígio. E você poder acompanhar a trama de perto e longe é esquisito - ainda mais por ter a responsabilidade em emitir uma opinião que trata da persona deste amigo, irmão, qualquer um da árvore genealógica, bróder, coligado, mano, truta, fuckdjunqs, enfim, trata-se da felicidade (ou não) dessa criatura.
Pede-se o seu ponto de vista.
Você emite opinião. E a partir do momento em que você percebe que este posicionamento interferiu (ou não) no andar da carruagem da trama, sim, se você for ser humano de verdade, o seu coração aperta por conta da expectativa. O papel da amizade não extingue nenhuma palavra do vocabulário, é fato. O amigo interrompe o pensamento do outro para mostrar o que pensa e avalia ser certo e justo para que este, por sua vez, pondere. O coração, a alma, a mente, o ouvido de ninguém é pinico, eu sei. Mas se você foi designado a dizer o que pensa... E aí? Graduar-se na faculdade de Abstenção dos Problemas Inter-Pessoais do Seu Próximo seria o caminho? Solução pequena, mesquinha. É preciso fugir desse tipo de sala de aula, com urgência clínica. Abster-se a algo quando se trata de amizade - seja ela conjugal, familiar ou inter-pessoal - é assinar um documento suicída. E acredito.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
berradeira de viola
shouting
Esse tempinho cinzento, todo chuvosinho, dá uma vontade de berrar aos quatro cantos o quanto você é viva; o quanto que se sente poesia ao respirar mesmo que metástases humanas. Vuvuzelas não, sons de berrantes saltam-lhe o peito como forma melódica de entoar a batida da sua rotina, numa mescla de cor, cheiro e sentido.
É desse balaio que parte da minha composição é feita, com direito à muita forma e conteúdo, pronomes pessoais sublimes, condições imperfeitas que se tornam conjugáveis e sintaticamente aplicáveis.
Basta acordar todos os dias para sentir o que se sente e gritar - é disso que eu trato.
domingo, 13 de junho de 2010
do cansaço ao esclarecimento
Ponte de acesso
Hoje eu acordei com um estalo na cabeça, foi o barulho e a intensidade dele que me fizeram mover esse corpo enorme de cima da cama e levantar. Mal abri os olhos e vi o meu cansaço do lado de fora, como se estivesse na minha frente, pedindo que eu o socorresse, pois ele não queria se cansar vivendo desse jeito dentro de mim. Eu tentei ajudá-lo, mas ele toma muito espaço e talvez por justamente se chamar cansaço é que suas entranhas sejam tão esquisitas e mal concentradas. Aliás, não-concentradas. Todos seus mecanismos, cheios de dificuldades de acesso e inoperáveis, fizeram com que eu realmente nem fosse de encontro. O que evitou a duplicação do cansaço. Forças estranhas, que não colaboram com o seu crescimento, tampouco com sua realização, felicidade e desenvolvimento, se apropriam com maior facilidade ao seu corpo que exala cargas positivas com o intuito de carregá-las da forma mais conveniente possível.
Mas... (sobe som de super-herói) Eu percebi que o cansaço queria mesmo alugar meu corpo para fazer-me de ferramenta à sua ociosidade plena e... o que fiz? Comi chocolate até a orelha. Em seguida, fiz uma pequena meditação com o intuito de canalizar minhas forças em prol da unificação de mim mesma e me conduzi ao lugar certo. Levei o namorado da minha melhor amiga de infância comigo. O melhor namorado de amiga de infância que tenho. Um querido! Um doce. Um fotosensível (é assim que se escreve?) suave que procura sua melhor atuação em formato de gente. Recorreu à mim e, honrosamente, o levei comigo para uma reunião na qual me sinto acolhida. O que aconteceu? Ele saiu renovado espiritualmente, menos confuso, melhor orientado e com o faro ainda mais apurado. Agradeço-lhe pela ponte de acesso que ele criou naquele momento (sem mesmo perceber), me ajudando a esclarecer uma dúvida terrena infantil, mas inquietante que tinha.
"Os erros são feitos por falsos prazeres", via Breno Moura, o cara citado acima.
Hoje eu acordei com um estalo na cabeça, foi o barulho e a intensidade dele que me fizeram mover esse corpo enorme de cima da cama e levantar. Mal abri os olhos e vi o meu cansaço do lado de fora, como se estivesse na minha frente, pedindo que eu o socorresse, pois ele não queria se cansar vivendo desse jeito dentro de mim. Eu tentei ajudá-lo, mas ele toma muito espaço e talvez por justamente se chamar cansaço é que suas entranhas sejam tão esquisitas e mal concentradas. Aliás, não-concentradas. Todos seus mecanismos, cheios de dificuldades de acesso e inoperáveis, fizeram com que eu realmente nem fosse de encontro. O que evitou a duplicação do cansaço. Forças estranhas, que não colaboram com o seu crescimento, tampouco com sua realização, felicidade e desenvolvimento, se apropriam com maior facilidade ao seu corpo que exala cargas positivas com o intuito de carregá-las da forma mais conveniente possível.
Mas... (sobe som de super-herói) Eu percebi que o cansaço queria mesmo alugar meu corpo para fazer-me de ferramenta à sua ociosidade plena e... o que fiz? Comi chocolate até a orelha. Em seguida, fiz uma pequena meditação com o intuito de canalizar minhas forças em prol da unificação de mim mesma e me conduzi ao lugar certo. Levei o namorado da minha melhor amiga de infância comigo. O melhor namorado de amiga de infância que tenho. Um querido! Um doce. Um fotosensível (é assim que se escreve?) suave que procura sua melhor atuação em formato de gente. Recorreu à mim e, honrosamente, o levei comigo para uma reunião na qual me sinto acolhida. O que aconteceu? Ele saiu renovado espiritualmente, menos confuso, melhor orientado e com o faro ainda mais apurado. Agradeço-lhe pela ponte de acesso que ele criou naquele momento (sem mesmo perceber), me ajudando a esclarecer uma dúvida terrena infantil, mas inquietante que tinha.
"Os erros são feitos por falsos prazeres", via Breno Moura, o cara citado acima.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Beijo na testa
Bom mesmo é ter a oportunidade do seu trabalho envolver mesmo que poucos, mas profissionais competentes e capacitados; com recheados momentos vividos a serem compartilhados. O lado do jornalismo que eu mais gosto é justamente quando esse envolvimento começa a ir além da visão semiótica, fazendo de uma simples ênclise, o viés a ser destrinchado pelo dia a dia.
...pausa...lapso...senso...retomada...
Falava de prestígio. Queria ressaltar como aprecio profissionais que realmente contribuem para o desenvolvimento de algo, nem que seja o dele próprio; imagine de outrém. Em homenagem à isso, a recitação do poema "Consulta Médica" de Hermes Fontes e um beijo na testa denotam um significado que talvez poucos poderiam apreciar..
E tenho dito.
Foto: Google Images
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